quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O ENSINO DA MATEMATICA COM NOVAS PERSPECTIVAS DE APRENDIZAGENS


COMO O PROFESSOR E O ALUNO TÊM INTERAGIDO SEUS CONHECIMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DE NOVOS SABERES NA DISCIPLINA DE MATEMÁTICA?
Audeni Coelho Nobre
Mestranda em Ciências da Educação
Pela Universidade Lusófona  de Portugal

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Atualmente a escola pública tem ganhado novas responsabilidades e desafios, não podendo, portanto, continuar com as mesmas práticas ultrapassadas longe de suas aplicabilidades. Estamos na era da tecnologia. O estudante não suporta mais a sala de aula. O professor já não tem o papel de antes, de mero transmissor de conhecimentos.
Para (Barbosa, 2004) “a educação, hoje, sofre grande pressão no sentido de sua transformação e enfrenta o desafio de ser repensada e de promover mudanças no seu papel, finalidade e inserção social”.
Trazendo a reflexão de Barbosa para o ensino da Matemática a necessidade de promover mudança é ainda maior, pois em muitos campos já evoluímos na construção de novos saberes, no entanto, em se tratando do ensino da Matemática, essa parece não sofrer alterações na metodologia de ensino. Percebe-se a falta de interação entre o conhecimento existente e o conhecimento que venha a emergir.
Novos caminhos devem ser trilhados pelos educadores na busca da transformação de suas práticas de ensino e na inserção de novas possibilidades de ensino.
Hoje o ensino de Matemática ainda se encontra preso, aos modelos pedagógicos convencionais, o que contradiz a nossa realidade, onde se convive com um mundo cada vez mais tecnológico, que nos convida a mudança de paradigma e a busca constante de novos conhecimentos. Nesse contexto, o ensino da Matemática não pode mais permanecer na mesmice de sempre.
“No decorrer dos anos, a Matemática tem sido ensinada obrigando o aluno a estudar e a resolver problemas fora da sua realidade e, até sem aplicação no cotidiano”. Tal ensino é remanescente do Método Tecnicista onde se ensinava técnicas para o aluno aprender, a partir do memorizar, se contrapondo aquela que considera o conhecimento em constante construção. (OLIVEIRA-2007).
Se o conhecimento é construído a partir da integração ou troca de conhecimentos entre os indivíduos, o papel do professor de matemática é o de facilitador deste conhecimento, empregando uma metodologia de introdução do conhecimento científico a partir daquele já existente.
Na tentativa de compreender o ensino da Matemática como base para a compreensão de todas as outras ciências, diversos conceitos são formulados e discutidos entre educadores e educando. A Revista Cálculo - Matemática para Todos, apresenta o ponto de vista de alguns educadores sobre o que é Matemática.
“Sérgio Perine, professor de estatística na Anhanguera Educacional, diz que desde a antiguidade a maioria dos filósofos usava a Matemática para explicar o que acontecia no mundo real, como também usava o mundo real para verificar as Teorias Matemáticas. Hoje a pessoa gosta ou odeia só que todos mexem com números”, diz Sergio. Além disso, ela ajuda a ter um raciocínio lógico centrado e uma visão mais objetiva das coisas.
Pautado nesta colocação percebe-se que não é de hoje a preocupação de ensinar matemática para a vida e trazer a matemática da vida para a escola e comprovar a necessidade de aprender os conteúdos matemáticos.
Os diversos conceitos passados de geração a geração sobre a Matemática são como um saber consolidado, exato e que nada há a se construir. No entanto, “Se a Matemática é a língua do universo como disse Galileu” ela não pode ser consolidada, pois o universo está em constante modificação, o que nos permite dizer que a Matemática não é um saber pronto e acabado. Se assim fosse não teria sentido algum para a vida do homem. Então o olhar do professor, a maneira como ele vê essa disciplina influenciará diretamente no processo da aprendizagem do aluno.
 A mesma situação pode ser colocada para o aluno, que se em séries iniciais tiver a oportunidade de ser conviver com um professor que gosta e sabe interligar a disciplina ao seu cotidiano, o aluno provavelmente irá se interessar e gostar da disciplina, sendo este incluído na lista daqueles que obtém sucesso na aprendizagem desta disciplina, se em caso contrário, o sujeito for trabalhado por um professor que detesta a área, que não tem formação para tal, aluno já será do meu ponto de vista impulsionada para também detestar a Matemática e provavelmente condenado ao fracasso escolar nesta disciplina. Contudo, ele também poderá se sentir desafiado a mostrar o contrário ao professor, ou seja, que a disciplina é útil, interessante e está presente em todos os eventos do nosso cotidiano.
Outro ponto interessante que ressalta o professor Sérgio é “as pessoas não sabem que a Matemática é o alicerce de outros conhecimentos.  A estatísticas, por exemplo é usada em todas as áreas”.
Vinícius Werneck, professor na Universidade Estadual do Rio de Janeiro completa a fala do professor Sérgio quando diz “ o homem evoluiu na medida em que a Matemática evoluiu.”
No meu ponto de vista, a matemática evolui quando se busca caminhos que permite articular os conteúdos escolares ás práticas do cotidiano, desenvolvendo no ser humano a capacidade de pensar, agir, e reconstruir os saberes que sejam compatíveis às suas necessidades no meio em que vive.
Conforme a Base Curricular Comum do Estado de Pernambuco as atividades matemáticas, movidas pela necessidade do homem de organizar e ampliar seu conhecimento e por sua capacidade de intervenção sobre os fenômenos que o cercam, gera ao longo da evolução histórica um corpo de saber matemático, que é o campo científico, extenso, diversificado e, contrariamente ao que se pensa em muitos segmentos da sociedade, um campo em permanente evolução nos dias atuais e não um repertório de  conhecimentos antigo petrificados (BCC-PE 2008 p.72).
A  Matemática por muito tempo foi vista como uma ciência exata, estável, sem evolução. Hoje diversas pesquisas tentam mostrar a abrangência dessa ciência, bem como sua contribuição na evolução de outras ciências. No meu entender, o que falta ao processo de compreensão é a escola, enquanto instituição responsável pelo desenvolvimento da aprendizagem, despertar no professor e no aluno a compreensão da dimensão da aplicabilidade da Matemática na vida do homem.
O professor deve ter um olhar holístico, com  senso crítico, sendo capaz de transformar sua prática, incorporando novas possibilidades de aprendizagens, se permitindo ele próprio a superaração de  barreiras,  indo além da proposta curricular  fazendo uma ponte entre o currículo e a vida social do aluno.
Situar o sujeito no tempo, espaço e meio cultural, possibilita introduzir a ideia da modelagem matemática: “a arte de transformar problemas da realidade em problemas matemáticos e resolvê-los interpretando suas soluções na linguagem do mundo real.” (BASSANEZI,2002, p.16  apud  BCC-PE 2008).
A Etnomatemática defendida por Ubiratan D’Ambrosio diz que o ensino da matemática não pode ser hermético, nem elitista. Devem levar em consideração a realidade sócia cultural do aluno, o ambiente em que vive e o conhecimento que traz de casa. Contudo, se fizermos uma rápida observação de uma aula sobre Equação do Segundo Grau na  8ª série do Ensino Fundamenta l, por exemplo, o que se percebe é que dificilmente o professor terá condições de associar esse conteúdo a uma situação da vida real do estudante, o que torna essa equação muitas vezes sem aplicabilidade na vida do aluno, pois no momento da compreensão não houve uma ligação com o seu cotidiano. O que passa para o aluno é apenas a fórmula que lhe dará suporte para chegar à solução da equação.
Daí surge a complexidade da construção do saber, pois o saber não é algo injetável, é um processo de troca, de associação entre o conhecimento empírico e o científico. O saber científico deve ser moldado a partir do conhecimento trazido da realidade vivida pelo aluno. Para tanto, isso requer sobre tudo do professor, uma formação capaz de compreender e transformar junto aos educandos esses conhecimentos, o que muitas vezes, ou na maioria das vezes, isso não é possível, pois  os professores que lecionam matemática, digo, com base na Região do Araripe, não possuem formação na área de  Matemática,  são licenciados  em Ciências Biológica, o que torna no meu ponto de vista, a situação ainda mais grave.
Perez (1999, p.271) reforça a necessidade de mudança no processo de formação ao afirmar que talvez seja necessária uma perspectiva utópica na formação do professor de matemática, que lembra a retórica de certos discursos vazios, mudando o paradigma de um professor introduzido em um processo preestabelecido e normativo professor competente e compromissado que controle por si mesmo seu processo profissional e os recursos de que necessita para ativar esse processo.
Bastante pertinente à colocação de Perez, pois o professor é a figura mais próxima da realidade do aluno, e, portanto, o responsável pela efetivação da aprendizagem, aprendizagem esta, que se dá pela interação dos conhecimentos do grupo e os conhecimentos orientados pelo professor, conforme suas possibilidades ou meios didáticos utilizados na sua prática pedagógica, sendo este o responsável também pela criatividade e controle dos recursos de que necessita para desenvolver a aprendizagem.
Nesse contexto, o aprendizado seria no meu ponto de vista consolidado se houvesse como resultado a ampliação, ou melhor, a transformação do aprendizado de uma situação que o aluno já conhecia para uma situação que passou a conhecer.
“Para definir uma estratégia de trabalho em sala de aula devemos considerar os elementos em jogo neste contexto, isto é, o professor na qualidade  de agente do processo e o aluno na qualidade de paciente do processo, isto é, o professor aquele que orienta a pratica docente e o aluno aquele que se submete à pratica orientada pelo professor. A estratégia adotada para essa condução é o currículo. (D’Ambrosio, 1986 p.44).”
A situação citada acima reforça uma realidade do sistema de ensino hoje, especificamente a Matemática, vem sendo trabalhada com base em um currículo elaborado para atender a demanda dos resultados esperados nas chamadas escalas de proficiências do SAEPE (Sistema de Avaliação de Pernambuco) e SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica), ambas as avaliações caminham baseadas em competências de aprendizagens que devem ser desenvolvidas nos estudantes que em respostas deverão atingir as metas previstas para as Unidades de Ensino  a nível estadual e nacional respectivamente.
No meu ponto de vista essas competências fogem da essência, quando a própria BCC-PE diz “ a ideia de competência implica fazer escolhas que promovam no sujeito às condições para que possa interpretar, intervir em sua realidade de cidadão. (BCC-PE, 76).
Diante desta colocação fica claro o verdadeiro sentido da construção de competências, contudo, a corrida principal hoje, não é no meu entender, essa busca da construção de competências. São inúmeros fatores de ordem social, cultural e econômicos que dificultam esse processo.

ESTADO DA ARTE
Preocupa-me essa realidade, em que tantas vezes compactuo com ela, seja na função de professor, gestor ou na difícil missão de educadora. Não posso fechar os olhos para um cenário que há séculos pede atenção e que muitos já contribuíram para tornar esse cenário um tanto mais interessante para o aluno, porém, outros ainda estão fechados, ou melhor, atados no mesmo ponto. A necessidade de mudança é um convite diário a vida do educador, no entanto, a forma como fomos educados, oprimidos, nos impede de nos libertarmos desse modelo e assim vamos passando para nossos alunos a mesma cultura de opressão que tivemos.
 “Educador e educandos se arquivam na medida em que, nesta distorcida visão da educação, não há criatividade, não há transformação, não há saber.”( FREIRE, 2005, P.66-67).
Compreendo como pesquisadora, a contribuição da Educação Matemática e da Etnomatemática para a melhoria do ensino da Matemática, no entanto, percebe-se ainda, a ausência destas áreas na prática pedagógica do professor. Muito embora, as pesquisas não sejam recentes, considero pouco exploradas pelo ambiente escolar, mesmo estando presentes na Base Curricular Comum de Matemática do Estado de Pernambuco, é como se a corrida fosse a prol simplesmente de cumprir o currículo, sem muita importância à prática desenvolvida pelo professor.




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FREIRE, Paulo Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro, Paz e Terra 2005.
BARBOSA, Nanci Rodrigues. Meditação e Negociação de Sentido em Práticas de Educação à Distância Voltadas a Formação Profissional. Dissertação de Mestrado. São Paulo:USP, 2004.
OLIVEIRA, Ana Maria Rocha. A contribuição da prática reflexiva para uma
docência com profissionalidade. Boletim Técnico do Senac, Rio de Janeiro,v.
33, n. 1, p. 46-61, jan./abr., 2007.Disponível em :
http://www.senac.br/BTS/331/artigo_04.pdf . Acesso :25/09/2010       
Revista Cálculo: Matemática para todos, Ed. 32 – Ano 3 – Setembro 2013.
BASSANEZI, R.C. Ensino aprendizagem com modelagem matemática. São Paulo: Contexto, 2002.
Base Curricular Comum para as Redes Públicas de Pernambuco – 2008.
O Laboratório de Ensino de Matemática na Formação do Professor/ Sérgio Lorenzato (org). 3.ed. – Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2010. (Coleção Formação de Professor).
PEREZ, G. (1999) “Desenvolvimento Profissional”. In: BICUDO, M.A.V. (org). Pesquisa em Educação Matemática: Concepções e Perspectivas. SP, Editora da UNESP, PP.263-282.
D’Ambrósio, Ubiratã, 1932 – Da Realidade à Ação: Reflexão sobre Educação Matemática e Matemática/ Ubiratan D’Ambrosio – SP: Summus; Campinas: ED. Da Universidade Estadual de Campinas, 1986.






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