COMO
O PROFESSOR E O ALUNO TÊM INTERAGIDO SEUS CONHECIMENTOS PARA A CONSTRUÇÃO DE
NOVOS SABERES NA DISCIPLINA DE MATEMÁTICA?
Audeni
Coelho Nobre
Mestranda
em Ciências da Educação
Pela
Universidade Lusófona de Portugal
FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA
Atualmente
a escola pública tem ganhado novas responsabilidades e desafios, não podendo,
portanto, continuar com as mesmas práticas ultrapassadas longe de suas
aplicabilidades. Estamos na era da tecnologia. O estudante não suporta mais a
sala de aula. O professor já não tem o papel de antes, de mero transmissor de
conhecimentos.
Para
(Barbosa, 2004) “a educação, hoje, sofre grande pressão no sentido de sua
transformação e enfrenta o desafio de ser repensada e de promover mudanças no
seu papel, finalidade e inserção social”.
Trazendo
a reflexão de Barbosa para o ensino da Matemática a necessidade de promover
mudança é ainda maior, pois em muitos campos já evoluímos na construção de
novos saberes, no entanto, em se tratando do ensino da Matemática, essa parece
não sofrer alterações na metodologia de ensino. Percebe-se a falta de interação
entre o conhecimento existente e o conhecimento que venha a emergir.
Novos
caminhos devem ser trilhados pelos educadores na busca da transformação de suas
práticas de ensino e na inserção de novas possibilidades de ensino.
Hoje
o ensino de Matemática ainda se encontra preso, aos modelos pedagógicos
convencionais, o que contradiz a nossa realidade, onde se convive com um mundo
cada vez mais tecnológico, que nos convida a mudança de paradigma e a busca
constante de novos conhecimentos. Nesse contexto, o ensino da Matemática não
pode mais permanecer na mesmice de sempre.
“No
decorrer dos anos, a Matemática tem sido ensinada obrigando o aluno a estudar e
a resolver problemas fora da sua realidade e, até sem aplicação no cotidiano”.
Tal ensino é remanescente do Método Tecnicista onde se ensinava técnicas para o
aluno aprender, a partir do memorizar, se contrapondo aquela que considera o
conhecimento em constante construção. (OLIVEIRA-2007).
Se o
conhecimento é construído a partir da integração ou troca de conhecimentos
entre os indivíduos, o papel do professor de matemática é o de facilitador
deste conhecimento, empregando uma metodologia de introdução do conhecimento
científico a partir daquele já existente.
Na
tentativa de compreender o ensino da Matemática como base para a compreensão de
todas as outras ciências, diversos conceitos são formulados e discutidos entre
educadores e educando. A Revista Cálculo - Matemática para Todos, apresenta o ponto
de vista de alguns educadores sobre o que é Matemática.
“Sérgio
Perine, professor de estatística na Anhanguera Educacional, diz que desde a
antiguidade a maioria dos filósofos usava a Matemática para explicar o que
acontecia no mundo real, como também usava o mundo real para verificar as
Teorias Matemáticas. Hoje a pessoa gosta ou odeia só que todos mexem com
números”, diz Sergio. Além disso, ela ajuda a ter um raciocínio lógico centrado
e uma visão mais objetiva das coisas.
Pautado
nesta colocação percebe-se que não é de hoje a preocupação de ensinar
matemática para a vida e trazer a matemática da vida para a escola e comprovar
a necessidade de aprender os conteúdos matemáticos.
Os
diversos conceitos passados de geração a geração sobre a Matemática são como um
saber consolidado, exato e que nada há a se construir. No entanto, “Se a
Matemática é a língua do universo como disse Galileu” ela não pode ser
consolidada, pois o universo está em constante modificação, o que nos permite
dizer que a Matemática não é um saber pronto e acabado. Se assim fosse não
teria sentido algum para a vida do homem. Então o olhar do professor, a maneira
como ele vê essa disciplina influenciará diretamente no processo da
aprendizagem do aluno.
A mesma situação pode ser colocada para o
aluno, que se em séries iniciais tiver a oportunidade de ser conviver com um
professor que gosta e sabe interligar a disciplina ao seu cotidiano, o aluno
provavelmente irá se interessar e gostar da disciplina, sendo este incluído na
lista daqueles que obtém sucesso na aprendizagem desta disciplina, se em caso
contrário, o sujeito for trabalhado por um professor que detesta a área, que
não tem formação para tal, aluno já será do meu ponto de vista impulsionada
para também detestar a Matemática e provavelmente condenado ao fracasso escolar
nesta disciplina. Contudo, ele também poderá se sentir desafiado a mostrar o
contrário ao professor, ou seja, que a disciplina é útil, interessante e está
presente em todos os eventos do nosso cotidiano.
Outro
ponto interessante que ressalta o professor Sérgio é “as pessoas não sabem que
a Matemática é o alicerce de outros conhecimentos. A estatísticas, por exemplo é usada em todas
as áreas”.
Vinícius
Werneck, professor na Universidade Estadual do Rio de Janeiro completa a fala
do professor Sérgio quando diz “ o homem evoluiu na medida em que a Matemática
evoluiu.”
No
meu ponto de vista, a matemática evolui quando se busca caminhos que permite
articular os conteúdos escolares ás práticas do cotidiano, desenvolvendo no ser
humano a capacidade de pensar, agir, e reconstruir os saberes que sejam
compatíveis às suas necessidades no meio em que vive.
Conforme
a Base Curricular Comum do Estado de Pernambuco as atividades matemáticas,
movidas pela necessidade do homem de organizar e ampliar seu conhecimento e por
sua capacidade de intervenção sobre os fenômenos que o cercam, gera ao longo da
evolução histórica um corpo de saber matemático, que é o campo científico,
extenso, diversificado e, contrariamente ao que se pensa em muitos segmentos da
sociedade, um campo em permanente evolução nos dias atuais e não um repertório
de conhecimentos antigo petrificados
(BCC-PE 2008 p.72).
A Matemática por muito tempo foi vista como uma
ciência exata, estável, sem evolução. Hoje diversas pesquisas tentam mostrar a
abrangência dessa ciência, bem como sua contribuição na evolução de outras
ciências. No meu entender, o que falta ao processo de compreensão é a escola, enquanto
instituição responsável pelo desenvolvimento da aprendizagem, despertar no
professor e no aluno a compreensão da dimensão da aplicabilidade da Matemática
na vida do homem.
O
professor deve ter um olhar holístico, com
senso crítico, sendo capaz de transformar sua prática, incorporando
novas possibilidades de aprendizagens, se permitindo ele próprio a superaração
de barreiras, indo além da proposta curricular fazendo uma ponte entre o currículo e a vida
social do aluno.
Situar
o sujeito no tempo, espaço e meio cultural, possibilita introduzir a ideia da
modelagem matemática: “a arte de transformar problemas da realidade em
problemas matemáticos e resolvê-los interpretando suas soluções na linguagem do
mundo real.” (BASSANEZI,2002, p.16
apud BCC-PE 2008).
A
Etnomatemática defendida por Ubiratan D’Ambrosio diz que o ensino da matemática
não pode ser hermético, nem elitista. Devem levar em consideração a realidade
sócia cultural do aluno, o ambiente em que vive e o conhecimento que traz de
casa. Contudo, se fizermos uma rápida observação de uma aula sobre Equação do
Segundo Grau na 8ª série do Ensino
Fundamenta l, por exemplo, o que se percebe é que dificilmente o professor terá
condições de associar esse conteúdo a uma situação da vida real do estudante, o
que torna essa equação muitas vezes sem aplicabilidade na vida do aluno, pois
no momento da compreensão não houve uma ligação com o seu cotidiano. O que
passa para o aluno é apenas a fórmula que lhe dará suporte para chegar à
solução da equação.
Daí
surge a complexidade da construção do saber, pois o saber não é algo injetável,
é um processo de troca, de associação entre o conhecimento empírico e o
científico. O saber científico deve ser moldado a partir do conhecimento
trazido da realidade vivida pelo aluno. Para tanto, isso requer sobre tudo do
professor, uma formação capaz de compreender e transformar junto aos educandos
esses conhecimentos, o que muitas vezes, ou na maioria das vezes, isso não é
possível, pois os professores que
lecionam matemática, digo, com base na Região do Araripe, não possuem formação
na área de Matemática, são licenciados em Ciências Biológica, o que torna no meu
ponto de vista, a situação ainda mais grave.
Perez
(1999, p.271) reforça a necessidade de mudança no processo de formação ao
afirmar que talvez seja necessária uma perspectiva utópica na formação do
professor de matemática, que lembra a retórica de certos discursos vazios,
mudando o paradigma de um professor introduzido em um processo preestabelecido
e normativo professor competente e compromissado que controle por si mesmo seu
processo profissional e os recursos de que necessita para ativar esse processo.
Bastante
pertinente à colocação de Perez, pois o professor é a figura mais próxima da
realidade do aluno, e, portanto, o responsável pela efetivação da aprendizagem,
aprendizagem esta, que se dá pela interação dos conhecimentos do grupo e os
conhecimentos orientados pelo professor, conforme suas possibilidades ou meios
didáticos utilizados na sua prática pedagógica, sendo este o responsável também
pela criatividade e controle dos recursos de que necessita para desenvolver a
aprendizagem.
Nesse
contexto, o aprendizado seria no meu ponto de vista consolidado se houvesse
como resultado a ampliação, ou melhor, a transformação do aprendizado de uma
situação que o aluno já conhecia para uma situação que passou a conhecer.
“Para
definir uma estratégia de trabalho em sala de aula devemos considerar os
elementos em jogo neste contexto, isto é, o professor na qualidade de agente do processo e o aluno na qualidade de
paciente do processo, isto é, o professor aquele que orienta a pratica docente
e o aluno aquele que se submete à pratica orientada pelo professor. A
estratégia adotada para essa condução é o currículo. (D’Ambrosio, 1986 p.44).”
A
situação citada acima reforça uma realidade do sistema de ensino hoje,
especificamente a Matemática, vem sendo trabalhada com base em um currículo
elaborado para atender a demanda dos resultados esperados nas chamadas escalas
de proficiências do SAEPE (Sistema de Avaliação de Pernambuco) e SAEB (Sistema
de Avaliação da Educação Básica), ambas as avaliações caminham baseadas em
competências de aprendizagens que devem ser desenvolvidas nos estudantes que em
respostas deverão atingir as metas previstas para as Unidades de Ensino a nível estadual e nacional respectivamente.
No
meu ponto de vista essas competências fogem da essência, quando a própria
BCC-PE diz “ a ideia de competência implica fazer escolhas que promovam no
sujeito às condições para que possa interpretar, intervir em sua realidade de
cidadão. (BCC-PE, 76).
Diante
desta colocação fica claro o verdadeiro sentido da construção de competências,
contudo, a corrida principal hoje, não é no meu entender, essa busca da construção
de competências. São inúmeros fatores de ordem social, cultural e econômicos
que dificultam esse processo.
ESTADO
DA ARTE
Preocupa-me
essa realidade, em que tantas vezes compactuo com ela, seja na função de
professor, gestor ou na difícil missão de educadora. Não posso fechar os olhos
para um cenário que há séculos pede atenção e que muitos já contribuíram para
tornar esse cenário um tanto mais interessante para o aluno, porém, outros
ainda estão fechados, ou melhor, atados no mesmo ponto. A necessidade de
mudança é um convite diário a vida do educador, no entanto, a forma como fomos
educados, oprimidos, nos impede de nos libertarmos desse modelo e assim vamos
passando para nossos alunos a mesma cultura de opressão que tivemos.
“Educador e educandos se arquivam na medida em
que, nesta distorcida visão da educação, não há criatividade, não há
transformação, não há saber.”( FREIRE, 2005, P.66-67).
Compreendo
como pesquisadora, a contribuição da Educação Matemática e da Etnomatemática
para a melhoria do ensino da Matemática, no entanto, percebe-se ainda, a
ausência destas áreas na prática pedagógica do professor. Muito embora, as
pesquisas não sejam recentes, considero pouco exploradas pelo ambiente escolar,
mesmo estando presentes na Base Curricular Comum de Matemática do Estado de
Pernambuco, é como se a corrida fosse a prol simplesmente de cumprir o
currículo, sem muita importância à prática desenvolvida pelo professor.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo Pedagogia do Oprimido,
Rio de Janeiro, Paz e Terra 2005.
BARBOSA, Nanci Rodrigues.
Meditação e Negociação de Sentido em Práticas de Educação à Distância Voltadas
a Formação Profissional. Dissertação de Mestrado. São Paulo:USP, 2004.
OLIVEIRA, Ana Maria Rocha. A
contribuição da prática reflexiva para uma
docência com
profissionalidade. Boletim Técnico do Senac, Rio de Janeiro,v.
33, n. 1, p. 46-61,
jan./abr., 2007.Disponível em :
http://www.senac.br/BTS/331/artigo_04.pdf
. Acesso :25/09/2010
Revista
Cálculo: Matemática para todos, Ed. 32 – Ano 3 – Setembro 2013.
BASSANEZI,
R.C. Ensino aprendizagem com modelagem matemática. São Paulo: Contexto, 2002.
Base
Curricular Comum para as Redes Públicas de Pernambuco – 2008.
O
Laboratório de Ensino de Matemática na Formação do Professor/ Sérgio Lorenzato
(org). 3.ed. – Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2010. (Coleção Formação
de Professor).
PEREZ,
G. (1999) “Desenvolvimento Profissional”. In: BICUDO, M.A.V. (org). Pesquisa em
Educação Matemática: Concepções e Perspectivas. SP, Editora da UNESP,
PP.263-282.
D’Ambrósio,
Ubiratã, 1932 – Da Realidade à Ação: Reflexão sobre Educação Matemática e
Matemática/ Ubiratan D’Ambrosio – SP: Summus; Campinas: ED. Da Universidade
Estadual de Campinas, 1986.
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