MINHA
TRAJETÓRIA COMO LÍDER
Audeni Coelho Nobre
Não há uma receita que, seguida à risca, resulte num líder
( Flávia Alves
de Brito Lacerda)
Durante
minha trajetória até hoje na educação, eu como tantas outras pessoas já tive
a brilhante oportunidade de ser líder de pequenos ou grandes grupos. Grupos
esses, com quem pude dividir o meu profissional e crescer junto com eles.
Descobri
em mim, a capacidade de liderança, quando tinha nove anos de idade e cursava apenas a 3ª série do Ensino Fundamental. Fui obrigada
pela ironia do destino junto a minha mãe assumir o papel de uma líder familiar.
Foi um momento difícil, mas de crescimento, pois naquela época eu perdia o meu pai que até então, era o
líder da família. Minha mãe semianalfabeta, dona de casa, que só entendia de
cozinha, deixava todos os problemas externos para serem resolvidos pelo meu
pai, que naquele dia 27 de agosto de 1983
nos deixava, vítima de assassinato. Minha mãe então, atada pelo comodismo
de nada resolver, começou atribuir responsabilidades pra mim, tipo ir
fazer compras, cuidar do meu irmão mais
novo, ir à cidade com ela, porque eu era
a única que sabia ler e podia entender o que estava acontecendo nos negócios
que ela tinha que resolver. Enfim, assim fui recebendo responsabilidades e
desenvolvendo desde cedo minhas condições de lideranças.
Na
escola, enquanto estudante sempre que havia trabalho em grupo, eu ia assumindo
a posição de líder e as pessoas iam criando aqueles laços de confiança em
minhas ideias e deixando sempre o comando ou a apresentação se fosse o caso,
por minha conta.
Na
7ª série do Ensino fundamental fui eleita pelos colegas, representante de sala,
e pelo grêmio estudantil, tesoureira, ambas as funções, contribuíram para a
perda da minha timidez. Na 8ª série fui nomeada oradora da turma através da
votação do melhor discurso produzido entre um grupo de estudantes considerados
bons oradores. Durante todo o Ensino Médio me envolvi em atividades destaques,
como líder de turma, organizadora de formatura e eleita a declamadora da turma
na formatura do Magistério.
Confesso
que todo os processo de crescimento
enquanto estudante só foram me tornando uma pessoa corajosa, que aprendeu a
gostar de desafios.
Quando
iniciei minha carreira no Magistério, fiquei por oito anos em uma escola da
zona rural, no sítio em que nasci e me criei. Era uma escola tranquila, sem
muitos problemas e, portanto, não via desafio presente no meu campo
profissional, tudo era monótono. Foi então que senti a necessidade de ir além,
queria um novo campo de trabalho, que pudesse me motivar que apresentasse
problemas a serem superados e mudei-me para o Distrito aonde fui exercer minha
função de professora na escola sede. No primeiro ano tudo ocorreu
tranquilamente, sem muitas diferenças, no ano seguinte, comecei a ver além do
que tinha visto até ali, recebi para trabalhar uma turma de 3ª série com alunos
de comportamentos e níveis de leitura diversos, daí surgiu à necessidade de
desenvolver um novo trabalho, e como na época eu já era estudante do Magistério
comecei então desenvolver de forma rudimentar a pedagogia de projetos.
As
dificuldades foram sendo sanadas aos poucos, alunos e pais foram aprendendo a
gostar e a confiar no meu trabalho, que no começou surgiu resistência, pois eu
era uma professora da zona rural e a maioria dos pais subestimava minha
capacidade profissional. Nos anos seguintes, cada vez mais iam surgindo à
diversidade e os desafios a serem superados, e, portanto, sempre surgindo à
necessidade de um novo jeito de caminhar.
Em
2005 recebi o convite e assumi a coordenação pedagógica da EBJL, uma
oportunidade que surgiu tão rápida e que muitos não acreditavam no meu
potencial para partilhar com uma equipe conhecimentos e juntos buscarmos
resultados. Mas tive o privilégio de conviver e aprender com um profissional de
tamanha personalidade, Manoel Nobre, um amante da educação e um sonhador com
uma sociedade mais justa. Com ele aprendi os primeiros traços de uma gestão
escolar, pois sempre partilhava comigo as dificuldades e os avanços da EBJL em
seus aspectos administrativos e pedagógicos.
Em
2007 assumi com a indicação de Manoel Nobre a coordenação administrativa da
EBJL juntamente com outra grande figura com quem muito aprendi me diverti e me
estressei, Erasmo Gonçalves, grande companheiro de luta. Juntos realizamos, com
muitas dificuldades, mas também com sucesso, um trabalho que fomos reconhecidos
pela coragem e determinação na busca da superação dos desafios. Com a
participação dos colegiados, construímos o primeiro Projeto Político Pedagógico
da EBJL e inédito, por ser a primeira escola do município a construir seu PPP.
Em
2009 quando deixei a coordenação administrativa da referida escola, fui convidada
a assumir um trabalho como professora de apoio ao Programa Alfa e Beto, foi um
trabalho interessante que realizei com a companheira Rivaneide Gonçalves e as
coordenadoras da EBJL Nederjane e Eliana, tendo como público alvo, os
estudantes do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental, os quais eram acompanhados e
avaliados por mim com instruções do próprio Programa os avanços no nível de
leitura e escrita. Todos os relatórios eram encaminhados à supervisora geral,
Ana D’Arc, outra grande figura com quem aprendi a ser.
Em
2011 esse trabalho continuou, só que dessa vez, como coordenadora de quatro
escolas da zona rural do meu distrito, sendo além das funções pedagógicas do
Programa Alfa e Beto, também as funções administrativas das escolas. Foi um
trabalho gratificante, pois de volta à zona rural, minhas origens, mas com um
novo e desafiador trabalho. Também paralelo a essa função, neste mesmo ano, assumi
a função de Chefe de Secretaria da E.M.R.D. rede estadual, apesar de todas as
minhas passagens em funções administrativas em nenhuma delas fui tão envolvidas
com a parte burocrática e ao mesmo tempo humana como a secretaria de uma
escola. É um trabalho um tanto chato e que não me apaixonei até hoje. Gosto do
vivo, do pedagógico, da alma, da essência, daquilo que pode ser mudado. Acho até que fui além, pois na secretaria
quando tive a oportunidade exerci além das minhas funções de secretária,
consegui exercer atividades pedagógicas a partir das análises dos dados
bimestrais.
Em
2012 assumi entre tantos obstáculos a função de diretora Adjunta/pedagógica da
E.M.R.D, foi um curto prazo que em nada diferenciou da função de Chefe de
Secretaria, tendo como companheira de luta a diretora Magna Gleyssia, jovem,
determinada, juntas partilhamos sonhos angústias e vencemos desafios. Ainda em
2012 fui submetida ao processo de avaliação para diretor de escola, candidata a
eleição de diretora da E.M.R.D e eleita pela comunidade escolar que já vinha
acompanhando o meu trabalho na escola. Assumi em janeiro de 2013 o cargo de
diretora na E.M.R.D., com êxito consegui desenvolver uma gestão participativa
voltada para a busca de resultados e do reconhecimento do trabalho em equipe. Embora,
tudo caminhasse para dá certo, resolvi em um ato que também é característica de um líder, tomar a decisão de deixar a gestão da escola.
Assim
durante todo o ano de 2013 exerci o papel de líder, com verdadeiro espírito de
liderança, focada no desejo de transformar sonhos e comportamentos. Foi um
trabalho árduo e ao mesmo tempo gratificante, pois conseguimos envolver a
comunidade escolar e ser reconhecidos pelo trabalho de uma equipe feliz, que
tiveram a oportunidade de criar, construir e desenvolver projetos voltados à
aprendizagem e ao protagonismo estudantil.
Para
ser líder é preciso estar aberto aos desafios, estar motivado, ser otimista,
passar para a equipe confiança, ser ousado, despertar no outro o desejo de
agir, de fazer algo melhor, de ser melhor, não esquecendo que líderes são
aprendizes que estão ali porque tiveram a oportunidade de estar, não porque
sabem mais que os outros. Nessa visão, a liderança é um processo de construção
diária em que o prazer estar naquilo que você constrói junto ao grupo.
Outro
papel determinante para o líder é a visão holística. Só é capaz de apresentar
ou criar junto ao grupo estratégias para vencer os desafios quem consegue ter
essa visão. “A liderança tem o papel
essencial de mobilizar e catalizar um grupo para objetivos comuns” (SEBRAE
NA). Assim se dá a essência do
sucesso do líder, a partir do vínculo que ele mesmo cria com o grupo.
Segundo
Peter Senger a “liderança está na comunidade, nunca em indivíduos”. Uma grande
transformação organizacional não é resultado do trabalho de um indivíduo
sozinho, por brilhante que ele seja. Sempre haverá pessoas que abraçam a causa
e, cada uma a seu modo e em seu momento, dão sua contribuição.
Pautada
nessa colocação quero frisar, muitos são aqueles que contribuíram para me
tornar líder. Os nomes presente no texto aqui são apenas daqueles com quem
trabalhei de maneira mais próxima, dividindo medos, sonhos, angústias e
sucessos, porém, inúmeras são as pessoas que contribuíram para minha trajetória
de líder. Vale salientar que ninguém é líder para sempre, contudo, as
características desenvolvidas nesse processo de experiência enquanto líder fará
parte do nosso perfil profissional, que não é por mim construído, mas sim,
constituído pelos medos, problemas, desafios, resultados e reconhecimento do
meu trabalho, além do companheirismo. Digo, com vocês eu aprendi.
Obras
consultadas
Como Tornar-se Um Líder – Jonh Adair
Dimensões
da Gestão Escolar e suas Competências –
Eloisa Luck
Site
do SEBRAE artigos: Liderança e Estratégias alguns pontos - SEBRAE NA e
Liderança se constrói no dia a dia - Flávia Alves
de Brito Lacerda
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